segunda-feira, 27 de junho de 2011

Visita a Jaguarão - Parte 1

História x Consciência Cultural

No último feriado viajei para o sul do estado, voltando depois de 3 anos à Jaguarão. Com um olhar mais maduro do ponto de vista arquitetônico, pude ver com mais atenção a cidade que mesmo pequena, tem muito a oferecer. 
Além da forma acolhedora com que as pessoas são recebidas, Jaguarão impressiona também por sua arquitetura predominantemente colonial portuguesa e neoclássica, com inúmeras edificações tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico do Estado, indica o potencial e a beleza que essas casas da metade do século XIX vêm a apresentar. A riqueza dos detalhes faz com que prestemos atenção em cada fachada por onde se passa. Fazendo do passeio pelas ruas algo fascinante.


 

Numa das principais ruas, a XV de Novembro, concentra-se grande parte das casas, que chamam atenção não só pela beleza, mas também por estarem conservadas e reformadas, mostrando que o povo Jaguarense possui uma consciência cultural e um orgulho da sua história que é exemplar. São poucas as edificações contemporâneas, aliás, dentre tantos exemplares antigos, é até um paradoxo a forma com que as casas construídas recentemente se comportam ao lado das existentes. 

Dessa viagem pude tirar algumas conclusões: uma delas é que uma cidade sem muitos recursos, que sobrevive principalmente da agropecuária e do turismo, já que faz fronteira com a cidade de Rio Branco (Uruguai), consegue de maneira surpreendente manter viva a sua história presente nas casas. Claro que o tempo age sobre elas, fazendo necessário alguns reparos, mas para um povo que faz questão de exibir a arquitetura de seus precursores, conservar torna-se mais que um hábito, é sim uma satisfação.

Conversando com a dona do hotel onde me hospedei, fiquei sabendo que está sendo sancionada uma lei que proíbe qualquer construção com mais de dois pavimentos em toda a cidade, talvez seja um extremismo, visto que limita o crescimento de Jaguarão, inclusive numa de suas fontes de renda. Talvez fosse interessante preservar sim o centro histórico, criando possibilidade de num raio maior construir mais hotéis, já que é oferecido aos turistas apenas pequenas pousadas, que lotam com freqüência. Ou mesmo, construir habitações para quem deseja fixar moradia numa cidade tranqüila e que conserva características bem interioranas, acolhedora e de extrema beleza.
Volto à Porto Alegre pensando como seria bonito se o nosso centro histórico também fosse mais valorizado, se ao invés de abrir espaço para novas edificações, fosse na medida do possível, restauradas as antigas, dando novos usos, a exemplo de como foi feito na Rua João Alfredo, no bairro Cidade Baixa, que deu vida a um local que estava entregue as traças. Torço para ver construído o projeto para o cais e mostrar para os visitantes o orgulho de ter na entrada da cidade um Porto Alegre recepcionando-os. Apresentar a nossa história de uma forma repaginada e não simplesmente negar o passado, construindo prédios sem qualidade arquitetônica, visando somente a questão imobiliária como tem se visto por ai. 

O centro da nossa cidade possui um potencial enorme para quem deseja investir em restauro, apesar de precisar de bastante recurso e técnica, é preciso primeiro mudar a forma de pensar das pessoas, que priorizam o lado pessoal e profissional e  acabam não pensando na cidade de uma forma geral e no espaço público configurado pelas edificações. Mas tenho certeza que o resultado final seria tão gratificante quanto a sensação que trago ao visitar Jaguarão.

Arquiteta e Urbanista Daniella Dutra de M. Gonçalves

2 comentários:

  1. Muito boas as fotos vocês poderiam disponibilizar mais fotos para pessoas como eu que nao conhecem lugar tenham uma visão mais ampla. Rafael T.

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  2. Muito Interessante Daniela, você poderia acrescentar mais fotos, creio que ficará mais rica a nossa imaginação do local.
    Benites

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