COPA: Até que ponto vale a pena...

Este é o primeiro post de muitos que espero que possamos fazer aqui no blog cujo assunto seja a Copa do Mundo. Isso por que tem muita coisa legal de arquitetura relacionado a este assunto, principalmente os estádios em si. Fora isso conhecemos novos países, novas culturas e novas arquiteturas, o que é muito legal.
E falando em arquitetura e Copa do Mundo, não podemos esquecer que 2014 é aqui e que tem projetos em andamento e que merecem alguns comentários.
Ontem à tarde, eu e o arquiteto Alan estivemos em reunião sobre a questão do Estudo de Viabilidade Urbanística do Estádio Beira Rio. Não o complexo todo, apenas o estádio. E me vi forçada a fazer um comentário aqui, aberto a todos, por que acho que em certos momentos precisamos cobrar mais responsabilidade, seja dos empreendedores seja dos projetistas.
O Sport Club Internacional propõe que a cobertura balance em 70 centímetros sobre a calçada. Ao contrário de todos os projetos que devem obedecer ao recuo de jardim, os arquitetos afirmam que pelo ganho estético, é válido. Concordo que a cobertura proposta é muito bonita, mas nem só de belo vive a arquitetura. Firmitas, utilitas e venustas - é o tripé da arquitetura. Todo o arquiteto sabe, ou deve ter aprendido a muito tempo como eu, que a arquitetura deve funcionar também. Funcionallidade. E me pergunto que tipo de impacto causa um balanço de 70cm, numa calçada de 2,5m, em que ao lado há uma via arterial para a cidade? Não que o impacto não possa ser minimizado, ou mitigado, mas acho que a comunidade portoalegrense merece um retorno. Se Bourbon, Praia de Belas e Colégio Rosário podem ser submetidos à concessão onerosa, como forma de garantir um retorno à cidade pelo uso de espaços aéreos, por que não o Inter também?
Lembrando que, segundo o conselheiro do CMDUA da região de planejamento 1, Ibirá, há algumas semanas passou no conselho a regularização de uma área que a escada estava sobre o recuo e cuja decisão unânime do conselho foi pela retirada da escada do recuo de jardim - que deveria ser preservado. (pois é, e onde fica a igualdade entre todos perante a lei?)

Mas antes fosse só a cobertura...
O Inter também pede que das 6000 vagas obrigatórias que o estádio deve ter, fiquem dispensados de 1500 vagas, pois só conseguiram inserir 4500 no projeto. Isso representa 25% da necessidade de estacionamento. E aqui quero me manifestar que sim, queremos a copa, sim quero muito ver projetos de arquitetura que valorizem a paisagem de Porto Alegre, mas sim, também queremos circular pela cidade e não ficar presos num congestionamento por horas e horas. O mínimo, o Internacional tem que conseguir atender; o ideal seria atender até mais. Meus caros colegas arquitetos e urbanistas, para que o projeto do Gigante seja um marco positivo e não negativo na história da cidade, há que ser atendido com folga este mínimo de vagas. As vagas de estacionamento são peça fundamental pois não temos um sistema de transporte público integrado e eficiente. Mesmo com a implantação dos Portais, projeto da Prefeitura, sabemos que eles não são a solução para um evento tão pontual como um jogo de Copa do Mundo.
Tenho muito medo que estes projetos pontuais virem rotina. Já pensaram se para todos os grandes empreendedores, que comprovem a geração de emprego, solicitem isenções nas mesmas proporções?
Considero, no mínimo, preocupante.
Aos arquitetos e urbanistas, cuidado com a cidade que estamos construindo. Afinal, ela é de todos.

Arquiteta e Urbanista Eliana Hertzog Castilhos