quinta-feira, 13 de março de 2014

Patrimônio Histórico, estratégias para sua manutenção. Post 1

Na noite de terça-feira, assisti à apresentação do EPAHC (Equipe de Patrimônio Artístico Histórico e Cultural de Porto Alegre) da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. O Auditório estava lotado, como bem é característica dos assuntos polêmicos. Diretores de empresas, arquitetos de renome, todos lá discutindo um assunto que na minha opinião "requentado".
Há anos atrás, em 2002, um estudo realizado por profissionais da Universidade Ritter dos Reis foi usado pela Prefeitura de Porto Alegre e baseou-se do princípio da precaução para listar e literalmente trancar inúmeros imóveis em Porto Alegre. Novamente, discutimos as mesmas coisas, sem nada evoluir.
A equipe do EPAHC apresentou um histórico dos imóveis, apresentou imagens... e ficou nisto. Na platéia, um público ansioso por entender como se faz esta classificação. A resposta ouvida foi o "está na lei". Hein (?!)... digamos que você seja proprietário e estivesse lá para entender o que estava acontecendo, nada foi explicado de forma clara...
Segue o vídeo da apresentação:

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Decorrente destas atitudes, recria-se a animosidade já existente sobre o assunto. Segundo informações do sr. arq. Custódio (do EPAHC) as notificações às pessoas foram realizadas através do DOPA (Diário Oficial de Porto Alegre). Mais animosidade... alguém lê o DOPA? Não digo eu, vc... mas imagino o carinha já idoso, proprietário de um imóvel listado (um dos 300), quando ele vai realmente saber, como ele vai conseguir se manifestar? Será que vai conseguir? O Arquiteto Joaquim Haas dizia assim: "sou proprietário e a imagem que apresentaram do meu imóvel não é atual...". Isso é verdade?
Ao longo dos anos vejo o Patrimônio de Porto Alegre ser tratado reiteradas vezes de forma autoritária. Nunca vi a cidade ser tratada de forma integrada, conjunta. Ok, queremos manter a nossa história, mas precisa ser tão engessado o processo em si.

Exemplifico com um caso que vivi. Há anos atrás... há cerca de uns 10 anos. A empesa Engenhosul comprou este imóvel na rua Ramiro Barcelos, ao lado do Colégio Bom Conselho. Há 10 anos.


















A proposta, devido à proximidade ao hospital Moinhos de Vento, era criar um prédio de consultórios médicos. A casa seria integralmente mantida. No local, seria instalada uma livraria médica. O projeto parou no EPAHC. Informaram que no local existia um jardim histórico e que nada poderia ser construído ali.
Resumo do imóvel, está completamente abandonado há anos, e no jardim... um mato.

Daí a gente se pergunta, por que não trazer de modo efetivo os proprietários para esta discussão? Por que não buscamos alternativas para que o proprietário não seja "condenado" a manter uma propriedade listada, inventariada ou tombada? Por que não incentivamos usos reais nestes imóveis, de modo que este imóvel possa realmente ser usado?


Vejo outros países super avançados neste sentido, vejo nossa cidade perdendo várias oportunidades, e por fim, perdendo seus imóveis. Exemplifico aqui com o projeto Pateo Malzoni, em São Paulo... tinha uma casinha, e a casinha ficou ali, mesmo com um Mega Empreendimento. Você pode não considerar a melhor solução, mas na minha modesta opinião, melhor isso do que a casa sem manutenção nenhuma.


Foi resguardado a visual da edificação, foi destacado com acesso, foi preservado.

A imagem ao lado foi retirada do site: http://www.premiomasterimobiliario.com.br/ ws2011/vencedores.asp

O prédio abriga a sede do Google em São Paulo.

Mais informações técnicas no link abaixo:
http://construcaomercado.pini.com.br/negocios-incorporacao-construcao/148/artigo300945-2.aspx

Extraímos outra imagem, da reportagem da PINI:



Há muito tempo questiono a falta de integração entre os setores. Por que o EPAHC não avalia os projetos e propõe soluções. Por que não incentivar sim a ocupação destes locais, com projetos de arquitetura de qualidade? Garanto que a iniciativa privada, as incorporadoras e construtoras não se opõem a isso. Se opõem ao não poder usar.

Há anos existia no endereço Mostardeiro 5 uma linda casa... um dia veio abaixo, e hoje há um prédio. Este é sempre o resultado que se está alcançando.

Também no bairro Moinhos de Vento, as casas da Luciana de Abreu, sobre as quais já conversamos em outro post também tem soluções pra dizer um mínimo estranhas: mantém 3 e as outras 3 são destruídas. Não seria pra levar a sério, se o assunto não fosse tão sério.


Segue link do post:
http://cubbos-consultoria.blogspot.com.br/2013/09/casinhas-da-luciana-de-abreu-uma-luta.html

Tentar algo novo, eis sim o desafio a todos nós e mais do que dividir, somar atitudes.

Eliana Hertzog Castilhos
arquiteta e urbanista

Um comentário:

  1. Precisamos de que as atitudes do EPAHC, sejam fiscalizadas por alguém se não os desmandos continuaram..........eternamente........... Precisamos de um povo que lute pelo que é certo.
    Jaqueline.

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